gerberaGosto muito de flores. Sempre tenho alguma em casa, normalmente dessas que compramos no supermercado, em vasinhos de plástico, feitas para durar pouquinho. Normalmente, quando deixam de florir, a maioria das pessoas desiste de cuidar dessas plantas, abandonando-as em algum canto ou até mesmo jogando fora as folhas e raízes que restam depois que as flores caem.

Algumas vezes também faço isso, descarto os pobres vasinhos. Em outras, vou colocando-os no quintal, onde recebem a luz do sol e água da chuva. Ou do regador. E ali elas ficam, meio largadas, mas recebendo os cuidados simples que toda planta requer. Água, sol, sombra. Aqui em casa, elas ganham um bônus, que é a visita quase diária dos passarinhos que vem buscar comida. Volta e meia eu os pego comendo algo em meus vasos de plantas sem flores.

Chego a me esquecer de alguns desses vasos. Desacredito que podem voltar a brotar. Acontece que muitos me surpreendem. Dia desses, acordei e vi que três botões de gérbera tinha surgido. Um calanchoê mirrado apareceu cheio de botões cor de rosa. A violeta ganhada em um evento floresceu pela terceira vez em um ano. As estrelícias do canteiro estão brotando aos montes, colorindo de laranja meu quintal verde e marrom. A orquídea, ao que tudo indica, quer também florescer novamente.

A beleza desses meus vasos parcialmente abandonados é que nunca sei quando vão florir. Parece que eles decidem. Parece haver por trás de cada botão de flor um momento certo, em que ele sabe que precisa se abrir. É quando o milagre acontece. Quando menos espero, meus vasos de supermercado se carregam de flores outra vez. Aí voltam para a sala, enfeitam o ambiente, encantam meus olhos.

Sou sempre surpreendida pela volta dessas flores. Assim como, na vida, somos surpreendidos pelos momentos em que Jesus vem conversar conosco. Ele chega de mansinho, sem avisar. Ele nos fala com palavras que nem sempre conseguimos entender. Às vezes permite que algumas coisas aconteçam para nos ensinar.

Na liturgia da missa de hoje, o Padre Marcelo falou sobre a importância da gente estar preparado para um encontro com Deus, que pode acontecer a qualquer momento. De estar com a alma leve, livre do pecado, em paz com a gente mesmo e com os outros. Assim como minhas flores, a gente nunca sabe quando Ele vai encontrar motivo e necessidade de falar conosco. Pode ser na hora daquela grande aflição. Pode ser na beleza do sol que se põe. Pode ser naquele momento de dor e desesperança. Ou naquele encontro com um amigo do peito.

A verdade é que um dia saberemos perceber a proximidade de Deus, a volta de seu filho Jesus. Saberemos perceber que, não importa se somos uma planta exótica e cara, ou uma violetinha comprada em supermercado, todos teremos nosso tempo de florir. Porque Ele acredita em nós, por mais que as vezes nem a gente creia em tudo o que é capaz de fazer.

As flores entendem que o sol e a água são o alimento que precisam para ficar fortes, bonitas e cheias de brotos. A gente precisa entender que para florir, precisamos da Palavra de Deus, alimento da alma, tão importante quanto o alimento do corpo. A gente precisa de amigos, de família, de amor. Precisa acreditar, cuidar do corpo, da saúde, do equilíbrio nos relacionamentos.

Que nessa semana, os botões de flores que vivem dentro de nós percebam que é hora de florir. Que a gente dê nosso melhor. Que saibamos retirar as ervas daninhas, que possamos combater as pragas dos maus pensamentos, dos sentimentos que machucam. Que a gente possa aprender os nutrientes que fazem bem e recusar os que só nos danificam as flores. Porque nascemos para florir, para ser beleza e perfume na vida uns dos outros. Que sejamos flores, onde quer que a gente for…